terça-feira, 31 de maio de 2011

Quando a chuva decide chover, ela vai chover!


Pode espernear, bater pezinhos, tanto faz,
há momentos que dirigem nossas vidas,

é a hora em que é preciso
acrescentar significado

para que tudo não pareça tão medíocre.

 
 
BE LINS

umaestrelanamao.blogspot.com/ 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Remar. Re-amar. Amar.


Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também. Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena.
Remar.
Re-amar.
Amar.


CAIO FERNANDO ABREU

terça-feira, 24 de maio de 2011

Divã, trecho

   
Sempre desprezei as coisas mornas,
as coisas que não provocam ódio nem paixão,
as coisas definidas como mais ou menos,
um filme mais ou menos, um livro mais ou menos.
Tudo perda de tempo.
Viver tem que ser perturbador,
é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados,
e com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco,
sua adoraçao ou seu desprezo.
O que não faz você mover um músculo,
o que não faz você estremecer, suar, desatinar,
não merece fazer parte da sua biografia.
 
 
MARTHA MEDEIROS

(trecho do romance Divã)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

faca nos dentes


I

só o que te restou foi sair à francesa...

sem nada entender
do sorriso às lágrimas, assim...
num átimo

sem mais, sem menos — nonsense

desvairada, cruel navalha
bisturiza teu coração atônito, indefeso
sem cuidados anestésicos

sabes, quando tudo o que se quer é morrer?

tal insuspeito veneno montecchio
naquela manhã de inverno, sucumbimos...
tal lúcido punhal capuleto

— jamais história alguma houve tão dolorosa —

II

o pior cego
... nem te percebi desaparecer na primeira nuvem
é aquele que faz ouvidos de mercador

viajando na utopia... me engana que eu gosto  

ufa! ufa?  
meus desassossegos pendurados no varal, enfim...
súditos de grampos coloridos


III
   
como estarás?
teus olhos marejam? teu coração ainda sangra?
nada, nada sei...

IV

começo a desviver aos poucos; nem me dou conta

na (acro)bacia das almas
tento afogar meu coração trapezista...
abro mão da rede

— águas empoçadas moverão moinhos?

tento cauterizar com lágrimas           
o pedaço de mim onde você habitou...
cárdica cicatriz, doída

V

quase-morte ronda os meus dias

do cristal líquido, o despertar providencial...
casual, sim; orkutado nas estrelas, quem sabe?
o destino me tirando pra dançar?

susto... não é que a tal fila anda, mesmo?

VI

não, não tenho vocação pra imagem de retrovisor

achar-me, pra não te perder...
porque existir não basta; viver, é o que importa
era o desafio, gincana solitária

VII

genuflexo, em oração:
— não permita que ela ande a passos tão longos
que eu não possa alcançá-la, senhor

VIII

o que eu quero pra minha vida daqui pra frente?

com a linha do teu horizonte
na agulha da minha  bússola, tudo o que eu desejo
é alinhavar a distância que nos separa

a quatro mãos, costurar uma história de vida

IX

creias, nem todas as loucuras são insanas
 
 
RAUL POUGH

sábado, 21 de maio de 2011

Vênus a Marte, em breve aparte


                No amor
                (diferentemente
                da guerra),
     
                nem tudo vale,
                meu amigo.
      
                No amor, deixas vivo
                o inimigo.
 
 
               MARCELO SANDMANN

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Amor e seu tempo

  
Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe

Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. amor começa tarde.


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Retrato

 
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?



CECÍLIA MEIRELES

Eterno

  
ETERNO,
é tudo aquilo que dura uma fração de segundo,
mas com tanta intensidade, que se petrifica,
e nenhuma força jamais o resgata.

FÁCIL, é ouvir a música que toca.
DIFÍCIL é ouvir a sua consciência.
Acenando o tempo todo,
mostrando as nossas escolhas erradas.

FÁCIL, é ditar regras.
DIFÍCIL é segui-las.
Ter a noção exata das nossas próprias vidas,
ao invés de ter noção da vida dos outros.

FÁCIL, é perguntar o que deseja saber...
DIFÍCIL é estar preparado para escutar esta resposta.
Ou querer entender a resposta.

FÁCIL, é chorar ou sorrir quando der vontade.
DIFÍCIL é sorrir com vontade de chorar,
ou chorar de rir de alegria.

FÁCIL, é dar um beijo.
DIFÍCIL é entregar a alma. Sinceramente por inteiro.

FÁCIL, é sair com várias pessoas ao longo da vida.
DIFÍCIL é entender que poucas delas vão te aceitar como és

e fazer-te feliz por inteiro.

FÁCIL, é ocupar um lugar na lista telefónica.
DIFÍCIL é ocupar o coração de alguém.
Saber que se é realmente amado.

FÁCIL, é sonhar todas as noites.
DIFÍCIL é lutar por um sonho.

FÁCIL, é mentir aos quatro ventos
o que tentamos camuflar.
DIFÍCIL é mentir para o nosso coração.

FÁCIL, é ver o que queremos enxergar.
DIFÍCIL é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.
Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.

FÁCIL, é dizer "olá" ou "como vais"?
DIFÍCIL é dizer "Adeus".
Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém das nossas vidas...

FÁCIL, é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
DIFÍCIL é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo, como uma corrente elétrica, quando tocamos a pessoa amada.

FÁCIL, é querer ser amado.
DIFÍCIL é amar completamente só.
Amar de verdade, sem ter medo de viver,
sem ter medo do depois.
Amar é entregar-se...
e aprender a dar valor somente a quem te ama.

Falar é completamente FÁCIL, quando se tem palavras
em mente, que expressam a tua opinião.
DIFÍCIL é expressar por gestos e atitudes o
que realmente queremos dizer,
o quanto queremos dizer,
antes que a pessoa se vá...

FÁCIL, é julgar as pessoas que estão sendo
expostas pelas circunstâncias.
DIFÍCIL é encontrar e refletir sobre os seus erros,
ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.

FÁCIL, é ser colega, fazer companhia a alguém,
dizer o que ele deseja ouvir.
DIFÍCIL é ser amigo para todas as horas e dizer
sempre a verdade quando for preciso.
E com confiança no que diz.

FÁCIL, é analisar a situação alheia e poder
aconselhar sobre esta situação.
DIFÍCIL é vivenciar esta situação e saber o que fazer.
Ou ter coragem para fazer.

FÁCIL, é demonstrar raiva e impaciência
quando algo o deixa irritado.
DIFÍCIL é expressar o seu amor a alguém que
realmente te conhece, te respeita e te entende.
E é assim que perdemos pessoas especiais.


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Motivo

  
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.



CECÍLIA MEIRELES

Ausência

  
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.



CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Borboletas

Quando depositamos muita confiança ou expectativas em uma pessoa, o risco de se decepcionar é grande.

As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui, para satisfazer as dela.

Temos que nos bastar... nos bastar sempre e quando procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém.

As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.

Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com a outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquela pessoa que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente, não é o homem ou a mulher de sua vida.

Você aprende a gostar de você, a cuidar de você, e principalmente a gostar de quem gosta de você.

O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você.

No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!

MÁRIO QUINTANA

As sem-razões do amor

 
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.


Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.


Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.


Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.



CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Temperamentos e Afinidades

 
O que é melhor para o relacionamento de um casal: que eles sejam iguais ou diferentes? Alguns apostam nos casais siameses: os dois corintianos, os dois petistas, os dois fumantes. Já outros preferem o antagonismo: ele Corinthians, ela Palmeiras; ele PT, ela PMDB; ele fumante, ela presidente da Associação de Combate ao Câncer de Pulmão.

Cada casal tem sua fórmula para dar certo, mas um pouco de equilíbrio ajuda a manter a estabilidade. O melhor parceiro é aquele que é bem diferente de nós e ao mesmo tempo muito parecido. Como? Diferente no temperamento, mas com mil afinidades.

Dois calmos vão pegar no sono muito rápido. Dois gulosos vão passar muito tempo no supermercado. Dois sedentários vão emburrecer na frente da tevê. Dois avarentos nunca terão um champanhe dentro da geladeira. Dois falantes jamais vão escutar um ao outro.

Temperamentos iguais se neutralizam. Temperamentos opostos é que provocam faísca. Ele é super-responsável, paga as contas em dia e jamais ficou sem combustível. Ela, ao contrário, é zen. Sua música preferida é um mantra. Não sabe que dia é hoje, mas tem certeza que é abril. Brigas à vista? Que nada. Ela o acalma, ele a acelera, e os dois inventam o próprio ritmo. O que importa é que avançam na mesma direção.

Quando o projeto de vida é antagônico, aí é que a coisa complica. Ele adora o campo, odeia produtos industrializados e não perde o Globo Rural. Ela almoça e janta hambúrguer, tem horror a qualquer ser vivo com mais de duas patas e raspou suas economias para ver o show dos Rolling Stones em São Paulo, sua cidade modelo.
Ele odeia a instituição chamada família. Ela, ao contrário, não abre mão das macarronadas dominicais na casa da mãe. Ele não sobe num avião nem sob decreto, ela sonha em dar a volta ao mundo. Ele quer ter quatro filhos, ela ligou as trompas quando fez 18 anos. Ele é ativista político, faz doações para o partido e participa de sindicatos. Ela vota em quem estiver liderando nas pesquisas. Ele não admite televisão em casa, ela não admite menos de três: uma na sala, outra no quarto e uma de dez polegadas na cozinha. Pode dar certo? Pode, mas alguém vai ter que abrir mão dos seus sonhos.

Temperamentos diferentes provocam discussões contornáveis. Já a falta de afinidades pode reduzir um dos dois a mero coadjuvante da vida do outro. Alguém vai ter que ceder muito, e se não tiver talento para a submissão, vai sofrer.

Logo, não importa se ele chega sempre atrasado e você é a rainha da pontualidade, desde que ambos tenham a mesma visão de mundo e os mesmos valores. Esse é o prato principal de todo relacionamento. O resto é tempero.


MARTHA MEDEIROS