quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

receita pra lavar palavra suja



tem pão velho?


Vou contar um fato corriqueiro que, inesperadamente, me trouxe uma grande lição de vida.
Era um fim de tarde de sábado. Eu estava molhando o jardim da minha casa, quando fui interpelada por um garotinho com pouco mais de 9 anos, dizendo:
- Dona, tem pão velho?
Essa coisa de pedir pão velho sempre me incomodou desde criança.
Olhei para aquele menino tão nostálgico e perguntei:
- Onde você mora?
- Depois do zoológico.
- Bem longe, hein?
- É... mas eu tenho que pedir as coisas para comer.
- Você está na escola?
- Não. Minha mãe não pode comprar material.
- Seu pai mora com vocês?
- Ele sumiu.
E o papo prosseguiu, até que disse:
- Vou buscar o pão. Serve pão novo?
- Não precisa, não. A senhora já conversou comigo, isso é suficiente.
Esta resposta caiu em mim como um raio. Tive a sensação de ter absorvido toda a solidão e a falta de amor daquela criança, daquele menino de apenas 9 anos, já sem sonhos, sem brinquedos, sem comida, sem escola e tão necessitado de um papo, de uma conversa amiga.
Caros amigos, quantas lições podemos tirar desta resposta:
"Não precisa, não. A senhora já conversou comigo, isso é suficiente!"
Que poder mágico tem o gesto de falar e ouvir com amor!
Alguns anos já se passaram e continuam pedindo "pão velho" na minha casa...
e eu dando "pão novo", mas procurando antes compartilhar o pão das pequenas conversas, o pão dos gestos que acolhem e promovem.
Este pão de amor não fica velho, porque é fabricado no coração de quem acredita Naquele que disse:
"Eu sou o pão da vida!"
Verifique quantas pessoas talvez estejam esperando uma só palavra sua.
Tem pão velho?

http://www.mensagemespirita.com.br

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

arte de furtar


O poeta declarou que toda criação é tributária de outras
criações no permanente processo de linguagem da poesia
    
O poeta afirmou que todo criador é tributário de outros no
processo de linguagem da poesia
   
O poeta se confessou um criador tributário de outros na
linguagem de sua poesia
   
O poeta não esconde que sua poesia é tributária da linguagem
de outros criadores
   
O poeta não esconde que sua poesia é influenciada pela
linguagem de outros criadores
    
O poeta não faz segredo de que se utiliza da linguagem de
outros poetas
   
O poeta fala abertamente que se apropria da linguagem de
outros poetas
  
O poeta é um deslavado apropriador de linguagens
  
O POETA É UM PLAGIÁRIO
   
   
AFFONSO ÁVILA

De O discurso da difamação do poeta.
São Paulo: Summus Editorial, 1978]

sábado, 24 de dezembro de 2011

Mínimo, menino


Quando a vida nos faz pequenos
as ruas se fazem de gambarra
O céu distancia suas luzes
e soam todos os alarmes
avisando que o gigante se aproxima
espanando seus pés e suas garras

Quando a vida nos faz pequenos
o medo em tudo se conforma
O mar entorna suas águas dentro e fora
e a lágrima que jorra dos olhos
vale menos que a conchinha
quebrada em seu direito de estar

o corpo se fragiliza
a alma pitonisa prevê o aborto dos sonhos
e que tudo acaba

Quando a vida nos faz pequenos
a chuva canta sua mágoa melancólica
em cristais fininhos de angústia
que cintilam no espaço como fossem esperança,
este vaga-lume inatingível,
ao alcance aparente das mãos

o chão fica impossível
o ar fica impossível
ser é impossível

assim como o fiapo do feno
que baila ao vento sem destino
os homens viram meninos
quando a vida os faz pequenos
 
 
MAURO VERAS

Esta imagem foi reproduzida sem alteração e sem motivação comercial.

...


Estou com sede de mudanças,
mas não quero arrastar os móveis,
nem desentortar os quadros.
Quero desabitar meus hábitos.


MARLA DE QUEIROZ

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

se estiver quente...


  terá o leite derramado
a propriedade de cicatrizar
as fendas que ficaram
entre o quase e o já era?
 
 
RAUL POUGH

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

domingo, 18 de dezembro de 2011

ao meu pai...



Nos deixaste aos 56. Eu tinha apenas 24 e ainda não tinha aprendido o que precisava saber a teu respeito, a meu respeito, a respeito de nós dois. Minhas emoções são covardes demais para falar da tua partida, dos 36 anos da tua ausência. Mas nos veremos, um dia, e eu terei oportunidade de resgatar o que ficou pendente entre nós. TE AMO!

Os dez Mandamentos da Serenidade


1. Só por hoje tratarei de viver exclusivamente este meu dia, sem querer resolver o problema da minha vida, todo de uma vez;

2. Só por hoje terei o máximo cuidado com o meu modo de tratar os outros: delicado nas minhas maneiras; não criticar ninguém, não pretenderei  melhorar ou disciplinar ninguém senão a mim;

3. Só por hoje me sentirei feliz com a certeza de ter sido criado para ser feliz não só no outro mundo, mas também neste;

4. Só por hoje me adaptarei às circunstâncias, sem pretender que as circunstâncias se adaptem todas aos meus desejos;

5. Só por hoje dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura, lembrando-me que assim como é preciso comer para sustentar meu corpo, assim também a leitura é necessária para alimentar a vida da minha alma;

6. Só por hoje praticarei uma boa ação sem contá-la a ninguém;

7. Só por hoje farei uma coisa de que não gosto e se for ofendido nos meus sentimentos procurarei que ninguém o saiba;

8. Só por hoje farei um programa bem completo do meu dia. Talvez não o execute perfeitamente, mas em todo o caso, vou fazê-lo. E me guardarei bem de duas calamidades: a pressa e a indecisão;

9. Só por hoje ficarei bem firme na fé de que a Divina Providência se ocupa de mim, mesmo se existisse só eu no mundo – ainda que as circunstâncias manifestem o contrário;

10. Só por hoje não terei medo de nada. Em particular, não terei medo de gozar do que é belo e não terei medo de crer na bondade.
 

Papa JOÃO  XXIII

Barça, imbatível!


Barcelona põe Santos na roda, massacra (4x0) e é campeão Mundial de 2011.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

não se mate


Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
Reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.
 
 
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

projeto de prefácio


Sábias agudezas... refinamentos...
- não!
Nada disso encontrarás aqui.
Um poema não é para te distraíres
como com essas imagens mutantes de caleidoscópios.
Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe.
Um poema não é também quando paras no fim,
porque um verdadeiro poema continua sempre...
Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte
não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras.
 
 
MÁRIO QUINTANA