domingo, 16 de outubro de 2011

...


                                 O amor é isso:

                    - Não prende;
                    - Não aperta;
                    - Não sufoca.

                    Porque quando vira nó, já deixou de ser laço…
 
     
                    MÁRIO QUINTANA

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

matou a família e foi dormir


Reveillon no paraíso.
Caim mata Abel
Abel mata Caim
   
Adão mata Eva
Eva põe-lhe fim.
    
Pronto.
Teriam evitado
muita chateação.
    
    
ANGÉLICA TORRES

...

Fazer as coisas pela metade
é minha maneira de terminá-las.

 
 
CARPINEJAR 

sábado, 8 de outubro de 2011

(in)falsa modéstia


Deus é gaúcho,

o sol é um fogo de chão que se alastrou,

o Atlântico é salgado porque a indiada daqui batia os espetos perto dos rios,

o Sahara é um deserto porque foi das árvores de lá que vieram os espetos,

a maior churrascada que se fez, resultou na extinção dos dinossauros,

a 2ª Guerra se deu por causa que o Turco Salim de Bagé queria tomar conta dos bolichos em Uruguaiana,

o Rio Grande amado é o único Estado que faz divisa com 3 países: Uruguai, Argentina e Brasil!

esses terremotos que andam ocorrendo por aí são decorrência de uns concursos de xula na fronteira...

e por aí se vai essa porção de terras ao redor do Rio Grande, chamada MUNDO! 

majestade

Edson Arantes do Nascimento, o PELÉ

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

pássaros matinais


Desperto o automóvel
que tem o pára-brisas coberto de pólen.
Coloco os óculos de sol.
O canto dos pássaros escurece.
   
Enquanto isso outro homem compra um diário
na estação de comboio
junto a um grande vagão de carga
completamente vermelho de ferrugem
que cintila ao sol.
   
Não há vazios por aqui.
  
Cruza o calor da primavera um corredor frio
por onde alguém entra depressa
e conta como foi caluniado
até na Direcção.
  
Por uma parte de trás da paisagem
chega a gralha
negra e branca. Pássaro agoirento.
E o melro que se move em todas as direcções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca na corda de estender:
um coro da Palestina:
 
Não há vazios por aqui.
  
É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto me vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.
  
Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.
O poema está pronto.
   
   
TOMAS TRANSTRÖMER

minhas metades


               são tuas
               todas elas
               menos duas
  
  
               TSRossi

quinta-feira, 6 de outubro de 2011


foz, 40 graus


Pelos meus 6, 7 anos morei em Foz do Iguaçu.  Casa de madeira, alugada, entre a Capitania e a Av Brasil, onde eu ia sob 40 graus, guarda-chuva para proteger os miolos, mas os pés descalços - sapatos, só pra ir ao colégio das freiras - marcados pela quentura ura ura da terra, comprar uma ou outra coisa pra minha mãe, que segurava a onda sozinha.  Meu pai, riscando de tratores o chão paraguaio, sempre distante. Lá, escolhi o primeiro presente que dei a mim mesmo: uma pequenina Rural Willys de plástico (com um dinheirinho inocentemente subtraído da gaveta do criado-mudo - e cego, graças a Deus - da mãe). Lá, meu primeiro gibi, Rocky Lane, personagem de far west (naquele tempo, a pronúncia era farrvéste). A primeira Copa do Mundo, quando escutei pela primeira vez falarem de um tal Vavá. O primeiro helicóptero de verdade pousando num campinho de futebol; acho que era o Governador.  Ah... e lá, conheci a Irene, eu aos 7, ela aos 12, minha primeira  e inesquecível experiência de contato com uma MULHER. Nada de mãe, irmã, primas, tias, professoras... uma MULHER de verdade, daquelas que faz descobrir-te HOMEM (*). Quem sabe, um dia, eu explore isto melhor. Por enquanto, fico apenas neste comentário, postado no "blog às moscas", do Rodrigo Madeira, lembranças de uma saudosa Foz, pago sagrado do menino-poeta personagem da velha "kodak instamatic 101". Abração...

(*) Ela apenas deixava enganchar-me no seu braço, a caminho da escola! Bom esclarecer, né? Até Casanova foi menino.

notícias de foz do iguaçu


kodak instamatic 101

então você é este
exatamente?
criança aos 7
sob aquele céu, azul
com glaucoma,
o sol em carne-viva,
foz do iguaçu?

quantos anos você
tem?
– eu tenho
a eternidade!

nunca mais e sempre.

quem?
que céu?

memória avulsa,
sem consequência,
sem vir ou ir
a qualquer parte.

bala alojada,
relâmpago,
pássaro do pasmo,
 
tronco arrastado,
ou ossos ou cisne,
no curso mineral
do esquecimento

e da invenção.
 
 
RODRIGO MADEIRA

terça-feira, 4 de outubro de 2011

a voz do silêncio


Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.

Simples, rápido! E quanta força!

Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.

Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"

É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.

É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba,
é aquele que fala.

E fala alto.

É quando ninguém bate à nossa porta,
não há emails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem.
  
  
MARTHA MEDEIROS