segunda-feira, 30 de julho de 2007

Mário Quintana, 101 anos depois

A 30 de julho de 1906, nascia em Alegrete - RS. Morreu em 1994.




ENVELHECER

Antes, todos os caminhos iam.
Agora todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.

MÁRIO QUINTANA

domingo, 29 de julho de 2007

Universidade Federal do Paraná



Distraimento


ando distraído pra chuchu
esqueci minhas havaianas
em honolulu


RAUL POUGH

Tamara Taiana E R S H C C B A A C R D B L C M B Galdino

São 17 abreviaturas, porque não há espaço suficiente no campo do RG para escrever seus 20 nomes. O último, Galdino, é o sobrenome herdado dos pais. Na carteira de identidade, o nome fica assim: Tamara Taiana E R S H C C B A A C R D B L C M B Galdino.

Só na certidão de nascimento aparecem todos eles: Tamara Taiana Elis Regina Satiko Harumi Clélia Cristina Bethânia Angélica Amélia Catarina Rafaela Denise Berenice Lídia Clementina Magnólia Branca Galdino, 23 anos, moradora de Campinas.

Os livros de história do Brasil mostram que D. Pedro I era Pedro de Alcântara Francisco Antonio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pachoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon.

Já D. Pedro II foi mais econômico: Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bebiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Gonzaga.

Sua filha chamava-se Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon, mais conhecida como Princesa Isabel.

E o nosso Dr. Sócrates, ex-Corinthians e Seleção Brasileira, é o apenas Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira.

sábado, 28 de julho de 2007

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Sem destino


Peter Fonda and Dennis Hopper star in the 1969 road movie
as Wyatt and Billy who "went looking for America but couldn't find it anywhere."

Hóstia


tem dias que tudo o que se quer
é um pão com manteiga na chapa
um pingado e uma cena de ciúme


RAUL POUGH

Mosaico



Happy end


o meu amor e eu
nascemos um para o outro

agora só falta quem nos apresente


CACASO

Eles embarcaram em um sonho


"É um ônibus velho, do tipo que parece que vai arriar no próximo buraco. Quando desponta num povoado nordestino, tem jeito de aparição. O povo olha desconfiado. De dentro da lataria desce, então, uma moça franzina, com jeito de menina, e um homem grande, de sorriso maior ainda. Joana D’Arc, ela se apresenta. O nome da santa guerreira não ajuda a dissipar a estranheza. Ele se chama Ronaldo Henzel. Sobrenome de gringo que não se ouve por aquelas paragens. “O que esse povo anda querendo neste fim de mundo?”, é o que os sertanejos pensam, à primeira olhada. Por sorte, Ronaldo e Joana querem muito". Leia aqui (por Marco Bahe, Revista Época) o restante da história desta gente que pensa que é anjo e conheça a Associação "PÃO É VIDA". Que não é apenas mais uma como a maioria que existe por aí. É uma história de heroísmo.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Ah... então tá!


gênesis,
capítulo 1, versículo 1,
versão revisitada:

"no princípio,
criou Deus a si próprio"


RAUL POUGH

sexta-feira, 13 de julho de 2007

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Pablo Neruda: 103 anos depois


Filho de um operário ferrroviário e de uma professora primária, nasceu a 12 de julho de 1904, na cidade de Parral, no Chile. Seu nome verdadeiro era Neftalí Ricardo Reyes Basoalto. Órfão desde o nascimento (sua mãe não resistiu ao parto). Prêmio Nobel de Literatura em 1971, morreu a 23 de setembro de 1973 em Santiago do Chile, oito dias após a queda do Governo da Unidade Popular e da morte de Salvador Allende. A notícia do falecimento correu de boca em boca por Santiago. Quem se atreveria, naqueles dias terríveis, a ir aos funerais de Neruda? Pois foram. Quando o caixão foi levado ao cemitério, a multidão foi se aglomerando ao redor. Murmurando seus versos, as ruas foram se enchendo de gente, recitando trechos da sua “A Canção Desesperada” e outros tantos versos de sua obra.

Clique para ouvir: "A Canção Desesperada"

Mariana: 1 ano depois


Esta é Mariana, minha neta, que neste 12/7/2007 completa seu primeiro ano de vida. Nasceu prematura, de 29 semanas, com apenas 915 gramas. Hoje, é a princesinha que aí está!


quarta-feira, 11 de julho de 2007

Arte fora de contexto é lixo?


"Numa experiência inédita, Joshua Bell, um dos mais famosos violinistas do Mundo, tocou incógnito durante 45 minutos numa estação de metrô de Washington, de manhã, na hora do rush, despertando pouca ou nenhuma atenção. A iniciativa foi do jornal "Washington Post", com a idéia de lançar um debate sobre arte, beleza e contextos. Ninguém reparou também que o violinista tocava com um Stradivarius de 1713 - que vale 3,5 milhões de dólares. Três dias antes, Bell tinha tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam 100 dólares. Ali na estação de metrô foi ostensivamente ignorado pela maioria, à exceção das crianças, que, inevitavelmente, paravam para escutar Bell... Segundo o jornal, isto é um sinal de que todos nascemos com poesia e esta é depois, lentamente, sufocada dentro de todos nós. "Foi estranho ser ignorado" disse Bell, que é uma espécie de 'sex symbol' da música clássica, vestido de jeans, t-shirt e boné de basebol, interpretou "Chaconne", de Bach, que é, na sua opinião, "uma das maiores peças musicais de sempre, mas também um dos grandes sucessos da história". Executou ainda "Ave Maria", de Schubert, e "Estrellita", de Manuel Ponce - mas a indiferença foi quase total. Esse fato, aparentemente, não impressionou os usuários do metrô. "Foi uma sensação muito estranha ver que as pessoas me ignoravam", disse Bell, habituado ao aplauso. "Num concerto, fico irritado se alguém tosse ou se um celular toca. Mas no metrô as minhas expectativas diminuíram. Fiquei agradecido pelo mínimo reconhecimento, mesmo um simples olhar", acrescentou. Ellsworth Kelly, Diretor da National Gallery, não se surpreende: "A arte tem de estar em contexto". E dá um exemplo: "Se tirarmos uma pintura famosa de um museu e a colocarmos num restaurante, ninguém a notará". Este texto me foi enviado pelo amigo Jayro Eduardo Xavier, de Sampa. Achei interessantíssimo. O título do post é meu. Para pensar a respeito.

Veja o filme no Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=hnOPu0_YWhw

E este é o link para o original do Washington Post:

terça-feira, 10 de julho de 2007

Poema Globalizado


a civilização é a barbárie iluminada à gás.
charles baudelaire


no mundo todo
a fome mata uma criança
a cada cinco segundos
a fome mata uma criança
a cada cinco segundos
a fome mata uma criança
a cada cinco segundos

pronto!
uma criança acaba de morrer
longe – e não obstante perto –
de nossos olhos acostumados à tv
e à tarde,
de nossa pose de homens retos, reservistas,
em dia
com a justiça eleitoral e divina.

porque uma criança morre de fome
a cada cinco segundos
(e o soube numa nota do jornal de ontem
onde meus cães urinaram),
alguma coisa dentro de mim
se despede para sempre.

que grande fraude somos nós,
porque hoje é sábado
e vivemos num mundo onde,
a cada cinco segundos,
uma criança morre de fome.

estamos todos – o olhar entojado
fugindo aos olhares, a tv que não te vê
(a civilização é a barbárie à luz da tv) –
sob este tétrico relógio de parede
cujos ponteiros são ceifadeiras,
são nossos braços,
são braços de crianças
que morrem de fome o dia inteiro.
porque uma criança morre de fome
a cada cinco segundos,

absurdado, mal respiro sob minhas ruínas,
mastigo a vergonha sem poder engoli-la.
minha alma é raquítica,
minha revolta é anêmica,
meu edema é moral,
meu canto é nauseabundo,
por que uma criança morre de fome
a cada cinco segundos.

mastigamos todos esta derrota coletiva,
a derrota das mães que,
se deus permite,
se fazem em postas na salmora das lágrimas
e saciam seus filhos
com seus corpos imundos,
porque a fome mata uma criança
a cada cinco segundos.

senhoras e senhores, há restos
mal-palitados de carne humana
entre nossos dentes,
os dentes do mundo,
porque uma criança morre de fome
a cada cinco segundos.

mas a fome não mastiga,
não perde tempo...

servida na baixela da política,
da guerra, do desastre, do descaso,
a cada cinco segundos,
a fome engole inteiras
nossas crianças mal-amadas.

posso conciliar meu sono?
posso dormir 6,10, 8 horas
e acordar humano, com fome
e comer um pão inteiro?
posso escrever um poema ruim
cheio de plágios e vergonhas
sobre a quintessencial ruindade
do homem
num intervalo de vinte minutos
em que 240 crianças morreram
de fome?

não, a fome é ínvia,
e a poesia
é um saco de ajuda humanitária
sem nada dentro.
nenhuma criança poderá se fartar
nessas palavras sem proteínas,
feitas de ossos e vegetais podres,
nem terá minha culpa a desculpa
de um poema péssimo
ou deixará de percorrer o arco
do silêncio ao silêncio,
da desinformação ao esquecimento.

o relatório da FAO será arquivado
nos computadores da ONU
e a nota do jornal que absorve o mijo
de nossos cães
ou dobra-se sobre o peixe
das celebrações,
a nota de papel que se fez grito
e carne
será dependurada num gancho
(não exposta como quase sugiro,
e sim escondida, de nós mesmos),
no frigorífico
de nossa indignação,

porque tendemos a saber por apenas
cinco segundos
que uma criança morre de fome
a cada cinco segundos.

não, a poesia não serve!
(essa merda de poema
vale menos que minhas fezes)
a poesia está terminantemente
quebrada,

porque no mundo todo
a fome mata uma criança
a cada cinco segundos
a fome mata uma criança
a cada cinco segundos


RODRIGO MADEIRA