quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Sem bala na agulha


leucêmica inspiração
agoniza num canto vazio da alma...
respira por aparelhos

cruel prenúncio de fim,
versos chegam sem vida ao papel...
cemitério de palavras

poeta em febril angústia
rascunha o prefácio do féretro...
sabor da própria morte


RAUL POUGH

Rory Calhoun


Ator norte-americano. Nascido há exatos 85 anos (08/08/1922), Francis Timothy McCown morreu a 28/04/1999. Fez muito sucesso, principalmente nos anos 50 e 60, destacando-se nos westerns.
Galã, contracenou com Marilyn Monroe.
No Brasil ficou muito conhecido na década de 60 através da série de televisão "O Texano".

Figur@tiva...


Pensamento constrói-se com palavras:
Sons, sintagmas, polissemas, imagens...
Silêncio... linguagens, problemas, soluções.

Alitera-se, repete-se, compara-se.
O termo na elipse se omite:
Conectivos se perdem no eclipse...

A frase na anáfora pede bis:
Contrapõe significativa metáfora.
Zeugmático o vocábulo se suprime...

Eufemismo anacoluta-se polissíndeto
Metonímia assíndeta pleonasma-se:
Onomatopéias em zumzoomzuns...

Perifraseio prosopopéica antítese
Pelo todo, a parte... singular pluralidade:
Na sinédoque, reduzi aquela cri$e...

Coincidência de vogais, tanta ironia;
Consoante fiquei com assonância:
Ao falar com madame Antonomásia...

Tentei me desviar da catacrese
Exagerei nas doses de hipérbole:
Dr. Hipérbato prescreveu-me uma silepse...



GUSTAVO DOURADO

Sandália


: é um tipo de calçado que tem como característica principal deixar a maior parte do pé exposta.


terça-feira, 7 de agosto de 2007

A prosa do observatório


o poeta esquadrinha a natureza
em busca de indícios: eclipses
o grafismo das garças no lago
estrelas cadentes e outros sinais
da língua de deus.
e deus, crupiê do acaso,
foi passar o verão noutra galáxia
deixou no céu uma guirlanda de enigmas
e mais meia dúzia de coincidências
pra orientar o frenesi dos tolos
e as especulações da astronomia



GERALDO CARNEIRO

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Ponto / Contraponto


acordei bemol
tudo estava sustenido
sol fazia
só não fazia sentido


PAULO LEMINSKI


. . . . .


acordei sustenido
tudo estava bemol
não fazia sentido
nem sol


RAUL POUGH

Nossa Senhora Distraída



DISTRAÍDOS VENCEREMOS, lançado em 1987, foi o último livro de poemas que Leminski publicou em vida (posteriormente foram lançados mais dois). Em 1994 foi lançado na Hungria com o título de SZÓRAKOZOTT GYÖZELMÜNK ("Nossa Senhora Distraída"). O exemplar da foto é meu, obtido diretamente junto à editora em Budapeste. De acordo com a Ágnes, que me enviou o livro, restou apenas um exemplar lá, do acervo deles. Portanto, uma raridade no Brasil. O idioma húngaro é, para mim, um completo mistério. Mas, segue abaixo um dos poemas, com sua versão original:


a régi füzetet nézem
azt meséli
hogy örök voltam régen

abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri
antigamente eu era eterno


PAULO LEMINSKI

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Mário Quintana, 101 anos depois

A 30 de julho de 1906, nascia em Alegrete - RS. Morreu em 1994.




ENVELHECER

Antes, todos os caminhos iam.
Agora todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.

MÁRIO QUINTANA

domingo, 29 de julho de 2007

Universidade Federal do Paraná



Distraimento


ando distraído pra chuchu
esqueci minhas havaianas
em honolulu


RAUL POUGH

Tamara Taiana E R S H C C B A A C R D B L C M B Galdino

São 17 abreviaturas, porque não há espaço suficiente no campo do RG para escrever seus 20 nomes. O último, Galdino, é o sobrenome herdado dos pais. Na carteira de identidade, o nome fica assim: Tamara Taiana E R S H C C B A A C R D B L C M B Galdino.

Só na certidão de nascimento aparecem todos eles: Tamara Taiana Elis Regina Satiko Harumi Clélia Cristina Bethânia Angélica Amélia Catarina Rafaela Denise Berenice Lídia Clementina Magnólia Branca Galdino, 23 anos, moradora de Campinas.

Os livros de história do Brasil mostram que D. Pedro I era Pedro de Alcântara Francisco Antonio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pachoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon.

Já D. Pedro II foi mais econômico: Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bebiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Gonzaga.

Sua filha chamava-se Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon, mais conhecida como Princesa Isabel.

E o nosso Dr. Sócrates, ex-Corinthians e Seleção Brasileira, é o apenas Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira.

sábado, 28 de julho de 2007

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Sem destino


Peter Fonda and Dennis Hopper star in the 1969 road movie
as Wyatt and Billy who "went looking for America but couldn't find it anywhere."

Hóstia


tem dias que tudo o que se quer
é um pão com manteiga na chapa
um pingado e uma cena de ciúme


RAUL POUGH

Mosaico



Happy end


o meu amor e eu
nascemos um para o outro

agora só falta quem nos apresente


CACASO

Eles embarcaram em um sonho


"É um ônibus velho, do tipo que parece que vai arriar no próximo buraco. Quando desponta num povoado nordestino, tem jeito de aparição. O povo olha desconfiado. De dentro da lataria desce, então, uma moça franzina, com jeito de menina, e um homem grande, de sorriso maior ainda. Joana D’Arc, ela se apresenta. O nome da santa guerreira não ajuda a dissipar a estranheza. Ele se chama Ronaldo Henzel. Sobrenome de gringo que não se ouve por aquelas paragens. “O que esse povo anda querendo neste fim de mundo?”, é o que os sertanejos pensam, à primeira olhada. Por sorte, Ronaldo e Joana querem muito". Leia aqui (por Marco Bahe, Revista Época) o restante da história desta gente que pensa que é anjo e conheça a Associação "PÃO É VIDA". Que não é apenas mais uma como a maioria que existe por aí. É uma história de heroísmo.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Ah... então tá!


gênesis,
capítulo 1, versículo 1,
versão revisitada:

"no princípio,
criou Deus a si próprio"


RAUL POUGH

sexta-feira, 13 de julho de 2007

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Pablo Neruda: 103 anos depois


Filho de um operário ferrroviário e de uma professora primária, nasceu a 12 de julho de 1904, na cidade de Parral, no Chile. Seu nome verdadeiro era Neftalí Ricardo Reyes Basoalto. Órfão desde o nascimento (sua mãe não resistiu ao parto). Prêmio Nobel de Literatura em 1971, morreu a 23 de setembro de 1973 em Santiago do Chile, oito dias após a queda do Governo da Unidade Popular e da morte de Salvador Allende. A notícia do falecimento correu de boca em boca por Santiago. Quem se atreveria, naqueles dias terríveis, a ir aos funerais de Neruda? Pois foram. Quando o caixão foi levado ao cemitério, a multidão foi se aglomerando ao redor. Murmurando seus versos, as ruas foram se enchendo de gente, recitando trechos da sua “A Canção Desesperada” e outros tantos versos de sua obra.

Clique para ouvir: "A Canção Desesperada"

Mariana: 1 ano depois


Esta é Mariana, minha neta, que neste 12/7/2007 completa seu primeiro ano de vida. Nasceu prematura, de 29 semanas, com apenas 915 gramas. Hoje, é a princesinha que aí está!


quarta-feira, 11 de julho de 2007

Arte fora de contexto é lixo?


"Numa experiência inédita, Joshua Bell, um dos mais famosos violinistas do Mundo, tocou incógnito durante 45 minutos numa estação de metrô de Washington, de manhã, na hora do rush, despertando pouca ou nenhuma atenção. A iniciativa foi do jornal "Washington Post", com a idéia de lançar um debate sobre arte, beleza e contextos. Ninguém reparou também que o violinista tocava com um Stradivarius de 1713 - que vale 3,5 milhões de dólares. Três dias antes, Bell tinha tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam 100 dólares. Ali na estação de metrô foi ostensivamente ignorado pela maioria, à exceção das crianças, que, inevitavelmente, paravam para escutar Bell... Segundo o jornal, isto é um sinal de que todos nascemos com poesia e esta é depois, lentamente, sufocada dentro de todos nós. "Foi estranho ser ignorado" disse Bell, que é uma espécie de 'sex symbol' da música clássica, vestido de jeans, t-shirt e boné de basebol, interpretou "Chaconne", de Bach, que é, na sua opinião, "uma das maiores peças musicais de sempre, mas também um dos grandes sucessos da história". Executou ainda "Ave Maria", de Schubert, e "Estrellita", de Manuel Ponce - mas a indiferença foi quase total. Esse fato, aparentemente, não impressionou os usuários do metrô. "Foi uma sensação muito estranha ver que as pessoas me ignoravam", disse Bell, habituado ao aplauso. "Num concerto, fico irritado se alguém tosse ou se um celular toca. Mas no metrô as minhas expectativas diminuíram. Fiquei agradecido pelo mínimo reconhecimento, mesmo um simples olhar", acrescentou. Ellsworth Kelly, Diretor da National Gallery, não se surpreende: "A arte tem de estar em contexto". E dá um exemplo: "Se tirarmos uma pintura famosa de um museu e a colocarmos num restaurante, ninguém a notará". Este texto me foi enviado pelo amigo Jayro Eduardo Xavier, de Sampa. Achei interessantíssimo. O título do post é meu. Para pensar a respeito.

Veja o filme no Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=hnOPu0_YWhw

E este é o link para o original do Washington Post:

terça-feira, 10 de julho de 2007

Poema Globalizado


a civilização é a barbárie iluminada à gás.
charles baudelaire


no mundo todo
a fome mata uma criança
a cada cinco segundos
a fome mata uma criança
a cada cinco segundos
a fome mata uma criança
a cada cinco segundos

pronto!
uma criança acaba de morrer
longe – e não obstante perto –
de nossos olhos acostumados à tv
e à tarde,
de nossa pose de homens retos, reservistas,
em dia
com a justiça eleitoral e divina.

porque uma criança morre de fome
a cada cinco segundos
(e o soube numa nota do jornal de ontem
onde meus cães urinaram),
alguma coisa dentro de mim
se despede para sempre.

que grande fraude somos nós,
porque hoje é sábado
e vivemos num mundo onde,
a cada cinco segundos,
uma criança morre de fome.

estamos todos – o olhar entojado
fugindo aos olhares, a tv que não te vê
(a civilização é a barbárie à luz da tv) –
sob este tétrico relógio de parede
cujos ponteiros são ceifadeiras,
são nossos braços,
são braços de crianças
que morrem de fome o dia inteiro.
porque uma criança morre de fome
a cada cinco segundos,

absurdado, mal respiro sob minhas ruínas,
mastigo a vergonha sem poder engoli-la.
minha alma é raquítica,
minha revolta é anêmica,
meu edema é moral,
meu canto é nauseabundo,
por que uma criança morre de fome
a cada cinco segundos.

mastigamos todos esta derrota coletiva,
a derrota das mães que,
se deus permite,
se fazem em postas na salmora das lágrimas
e saciam seus filhos
com seus corpos imundos,
porque a fome mata uma criança
a cada cinco segundos.

senhoras e senhores, há restos
mal-palitados de carne humana
entre nossos dentes,
os dentes do mundo,
porque uma criança morre de fome
a cada cinco segundos.

mas a fome não mastiga,
não perde tempo...

servida na baixela da política,
da guerra, do desastre, do descaso,
a cada cinco segundos,
a fome engole inteiras
nossas crianças mal-amadas.

posso conciliar meu sono?
posso dormir 6,10, 8 horas
e acordar humano, com fome
e comer um pão inteiro?
posso escrever um poema ruim
cheio de plágios e vergonhas
sobre a quintessencial ruindade
do homem
num intervalo de vinte minutos
em que 240 crianças morreram
de fome?

não, a fome é ínvia,
e a poesia
é um saco de ajuda humanitária
sem nada dentro.
nenhuma criança poderá se fartar
nessas palavras sem proteínas,
feitas de ossos e vegetais podres,
nem terá minha culpa a desculpa
de um poema péssimo
ou deixará de percorrer o arco
do silêncio ao silêncio,
da desinformação ao esquecimento.

o relatório da FAO será arquivado
nos computadores da ONU
e a nota do jornal que absorve o mijo
de nossos cães
ou dobra-se sobre o peixe
das celebrações,
a nota de papel que se fez grito
e carne
será dependurada num gancho
(não exposta como quase sugiro,
e sim escondida, de nós mesmos),
no frigorífico
de nossa indignação,

porque tendemos a saber por apenas
cinco segundos
que uma criança morre de fome
a cada cinco segundos.

não, a poesia não serve!
(essa merda de poema
vale menos que minhas fezes)
a poesia está terminantemente
quebrada,

porque no mundo todo
a fome mata uma criança
a cada cinco segundos
a fome mata uma criança
a cada cinco segundos


RODRIGO MADEIRA

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Niemeyer e sua relação com a merda


Tudo o que Oscar Niemeyer entendia de merda era sobre a necessidade de fazer cocô uma vez ao dia. Mal sabia ele, coitado, que estava projetando uma megaestação de armazenamento de esgotos!

Ninguém merece!


Os 8 (oito) últimos presidentes do Senado Federal desde 1995.
Os nomes falam por si. Alguém tem dúvidas?

José Sarney (1º mandato)
Antonio Carlos Magalhães (1º mandato)
Antonio Carlos Magalhães (2º mandato)
Jader Barbalho (*)
Ramez Tebet
José Sarney (2º mandato)
Renan Calheiros (1º mandato)
Renan Calheiros (2º mandato)

(*) Jader renunciou à Presidência do Senado e ao mandato de Senador (para não ser cassado). Atualmente é Deputado Federal.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

O "engolismo"

o "engolismo"


para "Wolf, o Vermelho" e "Fernando Moreira", inspiradores


se abro a boca
engulo mosquito

se fecho a boca
engulo sapo

pronto: isto é o "engolismo"

acabo de definir
(queriam o que, uma tese?)
o impasse existencial do homem
diante do nonsense da vida

eis meu legado
aos jovens filósofos, cientistas e pensadores
para refletir e desenvolver

o "engolismo"
é uma convergência científico-filosófica
do "mosquitismo" e do "sapismo",
(esta nomenclatura faz parte do legado)

minha genialidade pára aqui
apresentei o peixe...
a pescaria é com vocês


"engolismo": deve ser grafado sempre em caracteres minúsculos


RAUL POUGH

Tadinha!



E agora, John?


homem nenhum é uma ilha...

e esta porção de mim
cercada de mágoa
por todos os lados?


RAUL POUGH

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Descartável


estendo o braço sobre o descanso
(momento em que me faço canhoto)

fecho a mão e aperto os dedos sem que me mandem,
antecipando o cumprimento de ordens já conhecidas
que vem das bocas educadas
destes marujos terrenos de farda branca

ah, estes sim, verdadeiros heróis,
que navegam todos os dias por mares vermelhos,
cuidando para retardar o naufrágio inevitável
que um dia haverá de emborcar a nau
que carrega os nossos suspiros de vida!

- a seringa é descartável, senhor

a picada doeu; senti, mas não vi,
nunca olho, não me faz bem

fosse eu um príncipe, ela teria dito,
mas era rubro, com certeza;
a alma, esta sim, espero-a azul;
é a nobreza que realmente importa

- agora o senhor já pode ir;
pegue o protocolo na saída

duas bolachas
e um copinho de café
quebraram o jejum


RAUL POUGH

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Riquelme hizo vibrar al Boca campeón


Se despidió del club a lo grande. Metió los dos goles de la victoria (2-0) de visitante ante Gremio y así el equipo argentino logró el sexto título en la Copa Libertadores.
A arrogância gremista (imortal?) tombou diante do Boca. Texto e foto são do Clarín, de Buenos Aires.

Good news



quinta-feira, 14 de junho de 2007

Ímpares

entre nós,
parceria impossível


RAUL POUGH

Dalton Trevisan faz 82 anos


Dalton Jérson Trevisan, escritor (contista) curitibano, onde nasceu a 14 de junho de 1925. Não há fotos recentes disponíveis. Não dá entrevistas e vive praticamente recluso, quase como seu colega William Forrester (Sean Connery) do filme "Encontrando Forrester" (recomendo). Homenagem ao velhinho, pelo talento para escrever e pela capacidade de esconder-se (o que, em Curitiba, não é fácil).

Boca goleó y ya se abraza a la Copa


MUSICA, MAESTRO. Riquelme festeja su golazo, a la salida de un tiro libre. Fue el segundo. Las conquistas de Palacio y Ledesma completaron la fiesta.
Boca 3x0 Grêmio.


Fiquei triste, muito muito triste. Encharquei 3 camisas (vermelhas) de tanto chorar. Texto e foto são do Clarín, de Buenos Aires.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

sábado, 2 de junho de 2007

Falo

falo
sempre que posso

falo de dia
falo de noite
falo na frente
falo por trás *

e falo grosso...

às vezes, grito...
mas já cheguei a gaguejar
e até a perder a fala

dentro de ônibus lotado
adoro sussurrar

quando estou deprimido
não falo...

falo até com estranhas
(mas só de camisinha)

* (por trás é muito bom...)


RAUL POUGH

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Patrulhamento?


Ay de vosotros, fariseos, hipócritas.
Where is la liberté de expressão?

Seu comentário foi salvo e será exibido após a
aprovação do proprietário do blog.

Trauma


aquele U
tinha um problema; tremia
quando via um trema


RAUL POUGH

do livro "Síndrome de Hipotenusa"

Liberdade


Retomou as rédeas da sua vida: largou o marido.
(de lembrança, conservou a carroça.)


ALICE DANIEL

quinta-feira, 31 de maio de 2007

E na consciência, não vai nada?


Paisagem da miséria humana


Me espanto com o que vejo:
Não pode ser real.
Não pode ser humano.
Não pode ser.
Para mim, é efêmera paisagem.
Para tantos, é face cruel e permanente da vida:
a miséria humana.
A miséria é carniça.
Os urubus estão rondando.
E o assassino está no poder.
Da miséria que lhe agrada, sua criada,
é o criador.
Dia a dia planejando
o próximo golpe fatal da criação - da multiplicação.
Não dos pães. Da fome, da dor.
A miséria não fala,
não entende o que ouve,
nem pode entender.
Suprimiram-lhe as ferramentas.
O suor corrói a sua fé.
As mãos, ásperas, secas,
fendidas como o chão que a escora,
e talvez como a vida que insiste,
não oferecem perigo.
Somos todos egoístas!
As máscaras caem.
A aridez decompõe a noção da vida.
Por mais que joguemos terra, a cova se mostra
palmo a palmo mais funda.
A miséria cresce qual erva daninha.
A parasita videira mantém-se intocada.
Onde encontrar a raiz desse mal para cortar?


LAETICIA JENSEN EBLE

terça-feira, 29 de maio de 2007

A muralha da China


5 de Junho de 1989.
O herói desconhecido barra uma coluna de tanques
na avenida Chang An (Longa Paz), em Pequim.



sexta-feira, 25 de maio de 2007

No fim do túnel


chame-O para um tête-à-tête
Ele sempre tem um milagre
no bolso do colete


RAUL POUGH

do livro "Síndrome de Hipotenusa"

terça-feira, 22 de maio de 2007

A aventura de Mathias Rust, 20 anos depois


Em 28/05/1987, partindo do aeroporto de Malmi (Helsinque, Finlândia) e após percorrer mais de 900 km sem ser descoberto pelos radares da defesa aérea soviética, o alemão ocidental MATHIAS RUST, de 19 anos, pousou seu monomotor Cessna 172B em plena Praça Vermelha, Moscou, numa das mais incríveis proezas do século. O fato provocou, dois dias depois, a demissão do Ministro da Defesa, Serguei Sokolov. Há quem diga que este episódio contribuiu para o fim da União Soviética, em dezembro de 1991. Preso e condenado a 4 anos de trabalhos forçados, Mathias cumpriu 14 meses da pena e foi libertado em 03/08/1988. Há um livro que relata bem esta aventura; chama-se "Destino: a Praça Vermelha", de Carlos Villanes Cairo (nas bibliotecas e nos sebos). Leia a sinopse na Comunidade "Mathias Rust" (visite e adira), no Orkut:

www.orkut.com/Community.aspx?cmm=2622766

O Cessna 172B mais famoso do mundo

















O Cessna 172B pilotado por Mathias Rust na fantástica aventura, segundos antes de pousar na Praça Vermelha.

Exército de um homem só (I)


Não importa se só tocam
o primeiro acorde da canção
a gente escreve o resto
em linhas tortas
nas portas da percepção
em paredes de banheiro
nas folhas que o outono leva ao chão
em livros de história
seremos a memória dos dias que virão
(se é que eles virão)
não importa se só tocam
o primeiro verso da canção
a gente escreve o resto
sem muita pressa
com muita precisão
nos interessa o que não foi impresso
mas continua sendo escrito à mão
escrito à luz de velas
quase na escuridão
longe da multidão
não importa se só ouvem
a primeira nota da canção
a gente escreve o resto
e o resto é resto
é falsificação
é sangue falso, bang-bang italiano
suingue falso, turista americano
livres dessa estória
a nossa trajetória não precisa explicação
(e não tem explicação)
somos um exército
(o exército de um homem só)
no difícil exercício de viver em paz
somos um exército
(o exército de um homem só)
sem fronteiras,
sem bandeiras para defender
não interessa o diário da corte
não interessa o que diz o rei
(se no jogo não há juiz
não há jogada fora da lei)
não interessa o que diz o ditado
não interessa o que o estado diz
nós falamos outra língua
moramos em outro país
somos kamikazes
incapazes de ir à luta
somos quase livres
isso é pior do que a prisão
somos um exército
(o exército de um homem só)
um bando de vampiros
que odeiam sangue
sem fronteiras
sem bandeiras para defender
somos um exército
(o exército de um homem só)
nesse exército
(o exército de um homem só)
todos sabem que tanto faz
ser culpado ou ser capaz
... tanto faz ...


ENGENHEIROS DO HAWAII

Canção dedicada a Mathias Rust (do disco O PAPA É POP, 1990)

Desencanto


já não me atrevo
a sonhar com um destino
de quatro folhas


RAUL POUGH

do livro "Síndrome de Hipotenusa"

Gostosa!

Bela cantata!
Me allegro,
ma non treppo.


MARILDA CONFORTIN

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Auto-retrato


Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno:

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:

Devoto incensador de mil deidades,
(Digo de moças mil) num só momento
Inimigo de hipócritas, e frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento:
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia, em que se achou cagando ao vento.


BOCAGE (1765-1805)

(testando a resolução)



sexta-feira, 18 de maio de 2007

(vide título no rodapé do texto)


no noan dar
(in)apto 903

cof cof

lá fora, chove chove

cof cof

lá fora, pinga pinga
cá dentro, chá xarope

cof cof

(agite antes de usar)

cof cof

pombos hibernam em pleno outono
(o pipoqueiro não veio?)

cof cof

em tempo: já mataste o leão de hoje?
(o que? estão em extinção?)

cof cof


"o que um sujeito pode dizer numa fria e chuvosa tarde curitibana, trancado em seu apartamento, curtindo uma virose e uma tosse do caralho, que já duram uma semana"

quarta-feira, 16 de maio de 2007

.

se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao povo
que direitos, direitos,
humanos à parte


NICOLAS BEHR

do livro "Caroço de Goiaba", Julho/1978

Esta rua não devia se chamar Mário Quintana


Não gosto do sabor insosso
das linhas retas.
Um poeta não devia nomear
uma rua reta
a rua Mário Quintana não devia ser reta
devia ter joelhos
dobrar esquinas
passar por um barbeiro e livrarias
por uma árvore centenária
por um bar
cruzar uma praça
desorganizar o retilíneo das homenagens.
Uma rota de pássaros migratórios, sim
poderia se chamar Mário Quintana.


SOLIVAN BRUGNARA

terça-feira, 15 de maio de 2007

Terça 15 Maio: Pó&Teias no Porão Loquax


Grupo Pó&Teias

ou "Grupo de Escritores Glória Kirinus", da Biblioteca Pública do Paraná, tem como característica a experiência dos Maradigmas, conceito criado pela professora e escritora Glória Kirinus, com base em Heráclito, Gaston Bachelard e Michel Maffesoli.

apresenta: Recital de Poesia, com vários poetas do grupo

Quando: Terça-feira, 15 de Maio, 23:00 horas
Onde: Wonka Bar
Rua Trajano Reis, 326 (3026-6272 / 9142-0810)
Quanto: R$ 1,99

sábado, 12 de maio de 2007

Seqüelas


ela se foi;
foi-se o que era doce...

foi-se o sono
foi-se a paz
foi-se o futuro

restou
esta briga de foi-se
no escuro


RAUL POUGH

do livro "Síndrome de Hipotenusa"

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Plá, no Paiol, 20 anos atrás


09/05/1987: Hoje e domingo, às 21 horas, no Teatro do Paiol, o compositor, cantor, instrumentista, Ademir Plá, realiza o seu show "Raio de Sol". Nascido em Santa Catarina, Ademir estudou na Faculdade de Educação Musical do Paraná, e optou por fazer um trabalho completamente independente dos moldes tradicionais. "Para fazer o que gosto com a minha música não posso estar vinculado a nenhum esquema", relata o artista. "Preciso estar livre para criar e divulgar a minha mensagem" continua ele. Suas músicas criticam o sistema vigente, falam das desigualdades sociais e principalmente da falta de oportunidade do jovem músico nos espaços da cidade. Ademir Plá também é escritor, independente. Ele escreveu "Hi...Ritiba" e mais recentemente "Ida Ininterrupta", ainda não publicado. Já musicou peças, entre elas "Até Nunca Mais", "Grito de Gente" e "Se Fernão não fosse gaivota".

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente no suplemento Almanaque, do jornal "O Estado do Paraná", em 09/05/1987

terça-feira, 8 de maio de 2007

haiku 6


manso floconar
sobre a costela-de-adão; n
eva

 
RAUL POUGH



O futuro dos livros em questão


"O Google nunca divulga seus números, mas acredita-se que o programa Book Search já conta com mais de um milhão de livros; e o número cresce. Tornar os recursos da melhor literatura disponíveis a qualquer pessoa em frente a um computador: quem poderia achar isso ruim?
Mas o aspecto controvertido do projeto do Google não está nos títulos não protegidos por direitos autorais, e sim nos ainda protegidos; e estes, surpreendentemente, são a vasta maioria dos livros - 80% de tudo que já foi publicado ainda está protegido por direitos autorais. Para estes livros, se a editora for parte do programa de parceria do Google, até 20% deles está disponível online. O resto está apagado, mas a página contém links através dos quais é possível comprar o livro ou descobrir que biblioteca possui uma cópia. As editoras que não são parte do programa têm seus livros disponíveis para busca, mas não se pode ler nada além de um minúsculo pedaço de texto".

Por John Lanchester

Medo de altura


pingo de i
procura vaga em
ponto de exclamação


RAUL POUGH

do livro "Síndrome de Hipotenusa"

Avante, barbárie


Sentinelas de pedra, vendadas,
Protagonizam inábil estratégia:
colhem pétalas negras.

fervilha
na cisão do tempo
a barbárie.

O poeta sem leviandades,
por instinto
ou (in)sanidade

inscreve-se
lavra textos
onde nem tudo é razoável.


ANDRÉA MOTTA

domingo, 6 de maio de 2007

Cebola, de Manoel Carlos Karam


Acabo de ler o romance (?) - pelo menos é o que diz na capa - CEBOLA, deste escritor catarinense radicado em Curitiba. O livro ganhou o Prêmio Cruz e Sousa de Literatura de 1995. Criativo, nas minhas palavras, e originalíssimo, nas palavras de Carlos Nejar. Bastante interessante para quem pesquisa o "fazer literário". Rebuscado em excesso, em vários momentos torna-se chato, levando o leitor a abandoná-lo. Teimei em ler até o fim, pois nunca havia lido nada do autor. Não tenho dúvidas de que é um escritor competente, porém, este CEBOLA fez meus olhos arderem. Boa leitura para pesquisa e análise literária. Para quem busca simplesmente o prazer da leitura, fuja.

FCC Edições, Fundação Catarinense de Cultura, 1997, 256p

Terça 08 Maio: Haicai no Centro de Letras


O poeta e haicaista curitibano
José Marins
apresentará a palestra:

A História do Haicai no Paraná


Quando: Terça-feira, 08 de maio, 17:00 horas
Onde: Centro de Letras do Paraná
Rua Fernando Moreira, 370 (próximo ao SESC da Esquina)
Entrada franca

sábado, 5 de maio de 2007

As Férias de Mr. Bean


Nos cinemas.

Diversão garantida: RECOMENDO.
Mas procure uma versão legendada;
a versão dublada está um horror!