sexta-feira, 22 de junho de 2007

Descartável


estendo o braço sobre o descanso
(momento em que me faço canhoto)

fecho a mão e aperto os dedos sem que me mandem,
antecipando o cumprimento de ordens já conhecidas
que vem das bocas educadas
destes marujos terrenos de farda branca

ah, estes sim, verdadeiros heróis,
que navegam todos os dias por mares vermelhos,
cuidando para retardar o naufrágio inevitável
que um dia haverá de emborcar a nau
que carrega os nossos suspiros de vida!

- a seringa é descartável, senhor

a picada doeu; senti, mas não vi,
nunca olho, não me faz bem

fosse eu um príncipe, ela teria dito,
mas era rubro, com certeza;
a alma, esta sim, espero-a azul;
é a nobreza que realmente importa

- agora o senhor já pode ir;
pegue o protocolo na saída

duas bolachas
e um copinho de café
quebraram o jejum


RAUL POUGH

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