quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Auto-retrato


Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.


MANUEL BANDEIRA

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Black Power: Obama is the best!


Graciliano Ramos, por ele mesmo


Abaixo, o auto-retrato que fez aos 56 anos, na terceira pessoa:

"Nasceu em 1892, em Quebrangulo (paroxítono), Alagoas. Casado duas vezes, tem sete filhos. Altura, 1,75. Sapato n.º 41. Colarinho n.º 39. Prefere não andar. Não gosta de vizinhos. Detesta rádio, telefone e campainhas. Tem horror às pessoas que falam alto. Usa óculos. Meio calvo. Não tem preferência por nenhuma comida. Indiferente à música. Não gosta de frutas nem de doces. Sua leitura predileta: a Bíblia. Escreve Caetés com 34 anos de idade. Não dá preferência a nenhum dos seus livros publicados. Gosta de beber aguardente. É ateu. Indiferente à Academia. Odeia a burguesia. Adora crianças. Romancistas brasileiros que mais lhe agradam: Manoel Antonio de Almeida, Machado de Assis, Jorge Amado, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz. Gosta de palavrões escritos e falados. Deseja a morte do capitalismo. Escreve seus livros pela manhã. Fuma cigarros Selma (três maços por dia). É inspetor de ensino, trabalha no Correio da Manhã. Apesar de o acharem pessimista, discorda de tudo. Só tem cinco ternos de roupa, estragados. Refaz seus romances várias vezes. Esteve preso duas vezes. É-lhe indiferente estar preso ou solto. Escreve à mão. Seus maiores amigos: Capitão Lobo, Cubano, José Lins do Rego e José Olympio. Tem poucas dívidas. Quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas. Espera morrer com 57 anos."

Capitão Lobo comandava o quartel em que Graciliano esteve preso no Recife, em 1936; Cubano foi um ladrão que ele conheceu na cadeia.

(*) Graciliano morreu em 1953, aos 61 anos de idade.

Procrastinação


2ª-feira : café com leite
3ª-feira : café preto
4ª-feira : leite puro
5ª-feira : nescau
6ª-feira : granola com leite
Sábado : esponja e detergente

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Sobre o poemínimo

O poemínimo, gênero breve criado e assim batizado pelo poeta mexicano Efraín Huerta (1914-1982), destaca-se por seu lampejo, sua configuração espacial, seu humor e criatividade. Sobre esta expressão o próprio Huerta escreveu:
"Creo que cada poema es un mundo. Un mundo y aparte. Un territorio cercado, al que no deben penetrar totalmente indocumentados: los huecos, los desapasionados, los censores, los líricamente desmadrados. Un poemínimo es un mundo, sí, pero a veces advierto que he descubierto una galaxia y que los años luz no cuentan sino como referencia, muy vaga referencia, porque el poemínimo está a la vuelta de la esquina o en la siguiente parada del Metro. Un poemínimo es una mariposa loca, capturada a tiempo y a tiempo sometida al rigor de la camisa de fuerza. Y no lo toques ya más, que así es la cosa, la cosa loca, lo imprevisible, lo que te cae encima o tan sólo te roza la estrecha entendedera -y ya se te hizo-".

Ay poeta


primero
que nada
me complace
enormísimamente
ser
un buen
poeta
de segunda
del
tercer
mundo


EFRAÍN HUERTA