segunda-feira, 23 de maio de 2011

faca nos dentes


I

só o que te restou foi sair à francesa...

sem nada entender
do sorriso às lágrimas, assim...
num átimo

sem mais, sem menos — nonsense

desvairada, cruel navalha
bisturiza teu coração atônito, indefeso
sem cuidados anestésicos

sabes, quando tudo o que se quer é morrer?

tal insuspeito veneno montecchio
naquela manhã de inverno, sucumbimos...
tal lúcido punhal capuleto

— jamais história alguma houve tão dolorosa —

II

o pior cego
... nem te percebi desaparecer na primeira nuvem
é aquele que faz ouvidos de mercador

viajando na utopia... me engana que eu gosto  

ufa! ufa?  
meus desassossegos pendurados no varal, enfim...
súditos de grampos coloridos


III
   
como estarás?
teus olhos marejam? teu coração ainda sangra?
nada, nada sei...

IV

começo a desviver aos poucos; nem me dou conta

na (acro)bacia das almas
tento afogar meu coração trapezista...
abro mão da rede

— águas empoçadas moverão moinhos?

tento cauterizar com lágrimas           
o pedaço de mim onde você habitou...
cárdica cicatriz, doída

V

quase-morte ronda os meus dias

do cristal líquido, o despertar providencial...
casual, sim; orkutado nas estrelas, quem sabe?
o destino me tirando pra dançar?

susto... não é que a tal fila anda, mesmo?

VI

não, não tenho vocação pra imagem de retrovisor

achar-me, pra não te perder...
porque existir não basta; viver, é o que importa
era o desafio, gincana solitária

VII

genuflexo, em oração:
— não permita que ela ande a passos tão longos
que eu não possa alcançá-la, senhor

VIII

o que eu quero pra minha vida daqui pra frente?

com a linha do teu horizonte
na agulha da minha  bússola, tudo o que eu desejo
é alinhavar a distância que nos separa

a quatro mãos, costurar uma história de vida

IX

creias, nem todas as loucuras são insanas
 
 
RAUL POUGH

Um comentário:

rodrigo madeira disse...

às vezes é bom deixar por um tempo
nossas almas no varal.

concordo com vc em gênero (mulher), número (uma: todas) e degraus (na igrejinha da expiação):
há loucuras que são mais sensatas do que a lucidez.