status quotidianus, desvairamentos específicos, alucinações genéricas, poesia textual, imagética, minimalismo, alka-seltzer y otras cositas más...
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
tem pão velho?
Vou contar um fato corriqueiro que, inesperadamente, me trouxe uma grande lição de vida.
Era um fim de tarde de sábado. Eu estava molhando o jardim da minha casa, quando fui interpelada por um garotinho com pouco mais de 9 anos, dizendo:
- Dona, tem pão velho?
Essa coisa de pedir pão velho sempre me incomodou desde criança.
Olhei para aquele menino tão nostálgico e perguntei:
- Onde você mora?
- Depois do zoológico.
- Bem longe, hein?
- É... mas eu tenho que pedir as coisas para comer.
- Você está na escola?
- Não. Minha mãe não pode comprar material.
- Seu pai mora com vocês?
- Ele sumiu.
E o papo prosseguiu, até que disse:
- Vou buscar o pão. Serve pão novo?
- Não precisa, não. A senhora já conversou comigo, isso é suficiente.
Esta resposta caiu em mim como um raio. Tive a sensação de ter absorvido toda a solidão e a falta de amor daquela criança, daquele menino de apenas 9 anos, já sem sonhos, sem brinquedos, sem comida, sem escola e tão necessitado de um papo, de uma conversa amiga.
Caros amigos, quantas lições podemos tirar desta resposta:
"Não precisa, não. A senhora já conversou comigo, isso é suficiente!"
Que poder mágico tem o gesto de falar e ouvir com amor!
Alguns anos já se passaram e continuam pedindo "pão velho" na minha casa...
e eu dando "pão novo", mas procurando antes compartilhar o pão das pequenas conversas, o pão dos gestos que acolhem e promovem.
Este pão de amor não fica velho, porque é fabricado no coração de quem acredita Naquele que disse:
"Eu sou o pão da vida!"
Verifique quantas pessoas talvez estejam esperando uma só palavra sua.
Tem pão velho?
http://www.mensagemespirita.com.br
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
arte de furtar
O poeta declarou que toda criação é tributária de outras
criações no permanente processo de linguagem da poesia
O poeta afirmou que todo criador é tributário de outros no
processo de linguagem da poesia
O poeta se confessou um criador tributário de outros na
linguagem de sua poesia
O poeta não esconde que sua poesia é tributária da linguagem
de outros criadores
O poeta não esconde que sua poesia é influenciada pela
linguagem de outros criadores
O poeta não faz segredo de que se utiliza da linguagem de
outros poetas
O poeta fala abertamente que se apropria da linguagem de
outros poetas
O poeta é um deslavado apropriador de linguagens
O POETA É UM PLAGIÁRIO
AFFONSO ÁVILA
De O discurso da difamação do poeta.
De O discurso da difamação do poeta.
São Paulo: Summus Editorial, 1978]
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
domingo, 25 de dezembro de 2011
sábado, 24 de dezembro de 2011
Mínimo, menino
Quando a vida nos faz pequenos
as ruas se fazem de gambarra
O céu distancia suas luzes
e soam todos os alarmes
avisando que o gigante se aproxima
espanando seus pés e suas garras
Quando a vida nos faz pequenos
o medo em tudo se conforma
O mar entorna suas águas dentro e fora
e a lágrima que jorra dos olhos
vale menos que a conchinha
quebrada em seu direito de estar
o corpo se fragiliza
a alma pitonisa prevê o aborto dos sonhos
e que tudo acaba
Quando a vida nos faz pequenos
a chuva canta sua mágoa melancólica
em cristais fininhos de angústia
que cintilam no espaço como fossem esperança,
este vaga-lume inatingível,
ao alcance aparente das mãos
o chão fica impossível
o ar fica impossível
ser é impossível
assim como o fiapo do feno
que baila ao vento sem destino
os homens viram meninos
quando a vida os faz pequenos
MAURO VERAS
...
Estou com sede de mudanças,
mas não quero arrastar os móveis,
nem desentortar os quadros.
Quero desabitar meus hábitos.
MARLA DE QUEIROZ
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
se estiver quente...
terá o leite derramado
a propriedade de cicatrizar
as fendas que ficaram
entre o quase e o já era?
RAUL POUGH
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
domingo, 18 de dezembro de 2011
ao meu pai...
Nos deixaste aos 56. Eu tinha apenas 24 e ainda não tinha aprendido o que precisava saber a teu respeito, a meu respeito, a respeito de nós dois. Minhas emoções são covardes demais para falar da tua partida, dos 36 anos da tua ausência. Mas nos veremos, um dia, e eu terei oportunidade de resgatar o que ficou pendente entre nós. TE AMO!
Os dez Mandamentos da Serenidade
1. Só por hoje tratarei de viver exclusivamente este meu dia, sem querer resolver o problema da minha vida, todo de uma vez;
2. Só por hoje terei o máximo cuidado com o meu modo de tratar os outros: delicado nas minhas maneiras; não criticar ninguém, não pretenderei melhorar ou disciplinar ninguém senão a mim;
3. Só por hoje me sentirei feliz com a certeza de ter sido criado para ser feliz não só no outro mundo, mas também neste;
4. Só por hoje me adaptarei às circunstâncias, sem pretender que as circunstâncias se adaptem todas aos meus desejos;
5. Só por hoje dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura, lembrando-me que assim como é preciso comer para sustentar meu corpo, assim também a leitura é necessária para alimentar a vida da minha alma;
6. Só por hoje praticarei uma boa ação sem contá-la a ninguém;
7. Só por hoje farei uma coisa de que não gosto e se for ofendido nos meus sentimentos procurarei que ninguém o saiba;
8. Só por hoje farei um programa bem completo do meu dia. Talvez não o execute perfeitamente, mas em todo o caso, vou fazê-lo. E me guardarei bem de duas calamidades: a pressa e a indecisão;
9. Só por hoje ficarei bem firme na fé de que a Divina Providência se ocupa de mim, mesmo se existisse só eu no mundo – ainda que as circunstâncias manifestem o contrário;
10. Só por hoje não terei medo de nada. Em particular, não terei medo de gozar do que é belo e não terei medo de crer na bondade.
Papa JOÃO XXIII
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
não se mate
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
Reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
Reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
projeto de prefácio
Sábias agudezas... refinamentos...
- não!
Nada disso encontrarás aqui.
Um poema não é para te distraíres
como com essas imagens mutantes de caleidoscópios.
Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe.
Um poema não é também quando paras no fim,
porque um verdadeiro poema continua sempre...
Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte
não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras.
Nada disso encontrarás aqui.
Um poema não é para te distraíres
como com essas imagens mutantes de caleidoscópios.
Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe.
Um poema não é também quando paras no fim,
porque um verdadeiro poema continua sempre...
Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte
não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras.
MÁRIO QUINTANA
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
sei decor
o mistério azul do meu céu...
o segredo vermelho do meu inferno...
amarelei!
amarelei!
DEA VILLANELLA
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
cinema mudo
terão sido nossos sonhos
tão reticentes... assim
pra acabarem em pontos sem nós?
RAUL POUGH
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