sábado, 28 de novembro de 2009

Gueto


Não ter a menor razão para nada
tudo seria tão pequeno
tudo seria tão pouco
tudo

pessoas tristes
flores tristes
tardes tristes

e tudo que assistisse
faria assim como fosse morrer

Estrelas que brilharam tanto
inesquecíveis árias de grandes óperas
e hoje me ouvem os ouvidos
cantos de pássaros solitários

pássaros

de voos pequenos
como deveria ser tudo

uma velha negra e suas tetas murchas
a criança negra pendurada nelas
sujas, as bruxas girando em torno da cena
de formidáveis pessoas miseráveis ...

e a prata da cidade
que passa qual estrela cadente,
brilhando tanto!

e nas tetas da mulher, a derradeira gota de sangue

A alma se alimenta de leites improváveis ...
inapetentes almas em seu cruzeiro

Como o valor da Razão ...
como pessoas, flores
como o canto dos pássaros
como este voo rasteiro

Não deveria ter a menor razão para nada
tudo seria tão pequeno
tudo seria tão pouco
tudo


MAURO VERAS

Comentei com Mauro o verso
" de formidáveis pessoas miseráveis... "
Coincidente e interessante o fato de "pessoas" estarem entre estes extremos, entre o formidável e o miserável. Poeta que é poeta sabe o que fazer nestas horas. E Mauro, sacou rapidamente um poema inteiro (I nação - vide acima) que estava escondido sob um único verso deste seu GUETO.

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